Livro:
Confissões do Crematório
Autor
(a): Caitlin Doughty
Editora:
DarkSide Books
Ano:
2016
Nota:
3/5
Sinopse:
Ainda jovem, Caitlin conseguiu emprego em um crematório na Califórnia e
aprendeu muito mais do que imaginava barbeando cadáveres e preparando corpos
para a incineração. A exposição constante à morte mudou completamente sua forma
de encarar a vida e a levou a escrever um livro diferente de tudo o que você já
leu sobre o assunto. Confissões do Crematório reúne histórias reais do
dia-a-dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos filosóficos,
históricos e mitológicos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto
varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em
chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores. O
livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician – levanta a cortina
preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a
vida e a morte de maneira inteligente, honesta e despretensiosa – exatamente
como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância
não é uma bênção, é apenas uma forma profunda de terror”.
“Os ossos,
reduzidos apenas aos elementos inorgânicos na cremação, ficam muito frágeis.
Quando virei o crânio de lado para poder olhar melhor, a coisa toda se desfez
na minha mão e os pedaços caíram no pote entre meus dedos.” Pag. 25
Aos 23 anos Caitlin consegui um emprego
no Westwind Cremation & Burial, uma agencia (ou casa) funerária. Desde
pequena Caitlin tem uma atração pela morte, desde que aos 8 anos viu uma menina
cair e morrer no shopping. Os anos passaram e Caitlin se formou na faculdade em
Historia Medieval, mas esse nunca foi o se sonho para o futuro.
Quando conseguiu o emprego no Westwind
Cremation & Burial, tinha uma visão de morte, onde as pessoas não ligavam
tanto assim para a morte, não seguiam mais os rituais ou mesmo os costumes religiosos
de como tratar (cuidar) de um cadáver.
“Olhar diretamente nos olhos da
mortalidade não é fácil. Para evitar isso, nós escolhemos continuar vendados,
no escuro em relação às realidades da morte. No entanto, a ignorância não é uma
benção - é só um tipo mais profundo de pavor.” Pag. 13
Caitlin tem que cuidar dos corpos na Westwind Cremation & Burial. Em seu
primeiro dia de trabalho ela ‘conhece’ o Sr. Byron, um senhor na casa dos 70
anos, ao qual ela teria que barbea-lo, pois logo o falecido teria uma sua ultima
visita antes de ser cremado, mas como fazer isso?! Muitas perguntas surgiram na
sua cabeça, mas seguindo seu lema, ‘sem problemas, eu cuido disso’, ela foi em
frente, e barbeou seu primeiro cadáver.
De inicio Caitlin viveu diversas
situações pra lá de estranhas, bizarras e ate algumas assustadoras e outras
nojentas. Entre os vários acontecimento Caitlin, nos conta sobre como foi ter
que fazer uma cremação com testemunhas, onde os parentes do falecido estariam
presentes na hora da cremação.
Ela temia que tudo desse errado, temia
por não conseguir realizar os ‘procedimentos’ de forma correta e que acabasse
fazendo a maior bagunça, juntando ao fato dela ser um pouco atrapalhada.
Das varias histórias do livro, uma que
me chamou mais atenção e que também afetou bastante a Caitlin, foi a sua
primeira cremação de bebês, ver aqueles seres tão pequenos e inocentes, serem
consumidos e no fim só restar cinzas. Um dos casos que mais abalou a Caitlin
foi de uma menininha de olhos azuis.
“Por que esse bebê em particular me
encheu de tanta dor?
(...)
Talvez ela tenha funcionado como um
símbolo de todos os outros bebês quais não chorei.” Pag. 104
Outra historia que deixa o leitor se
sentindo enjoada e a cremação de uma Senhora um pouco acima do peso, onde
Caitlin descore sobre o processo de cremação da gordura, nojento!
Durante o livro, Caitlin nos trás a
visão sobre a morte em diferentes situações, momentos e circunstancia, como uma
tribo indígena, os Wari que praticam o canibalismo de seus entes queridos, mais
isso em um contesto cultural e religioso. Também nos fala das práticas de
embalsamamento dos corpos, que no inicio era para preservação do cadáver e que
atualmente se tornou algo mais estético, ou seja, deixar o cadáver um pouco
mais apresentável.
A Caitlin defende a ideia da ‘boa morte’
onde os cadáveres são respeitados, seguindo rituais culturais e religiosos, e
nada de esconder a morte, como é de costume, não é um tema falado e muito menos
discutidos, nisso a Caitlin faz muito bem em seu livro.
Admito, eu não sou de falar em morte. Sim
já perdi entes queridos, mas nessas ocasiões eu não estava presente, assim
nunca fui literalmente (praticamente) apresentada ‘a morte’, admito também que não
saberia lidar com ela [a morte], mas com esse livro eu tenho uma outra ideia,
uma nova forma de lidar / ver a morte, como a própria Caitlin diz “a morte não
está acontecendo com você. Está acontecendo com todo mundo.”
Esse com certeza não é um livro fácil de
se ler, é preciso ter uma mente aberta e mesmo assim ele pode nos chocar em
algum momento, como a morte também nos choca quando chega.
Depois de ler essa ‘resenha’ você, deve
esta se perguntando “porque dei nota 3 para o livro se digo que gostei dele?”.
Vou me explicar, gostei sim do livro, a forma que a Caitlin escreve é ótima,
ela sabe ser sutil e engraçada ao mesmo tempo, fala da morte de uma forma que
nos faz para e pensar a respeito...
Mesmo com todos os pontos positivos em
relação ao livro, eu senti falta de mais acontecimentos, de mais historias dela
[Caitlin] vividas no Crematório, em alguns momentos eu me senti perdida,
principalmente quando ela começava contando de uma cremação e vinha com a parte
‘histórica’ da morte, não estou querendo dizer que essa parte é ruim só estou
dizendo que me deixava confusa.
Mesmo com esse ponto negativo, recomendo
esse livro, para quem quer saber mais sobre a morte, sobre cadáveres, embalsamamento
e cremação. E se divertir com as historias da Cailtlin, que atualmente tem um
canal no YouTube - Ask A Mortician e também
possui um grupo The Order of The Good Death, para discutir sobre mortalidade
com aqueles que trabalham, estudam, e gostem do assunto.