terça-feira, 31 de outubro de 2017

Resenha #54 Confissões do Crematório - Caitlin Doughty

Livro: Confissões do Crematório
Autor (a): Caitlin Doughty
Editora: DarkSide Books
Ano: 2016

Nota: 3/5

Sinopse: Ainda jovem, Caitlin conseguiu emprego em um crematório na Califórnia e aprendeu muito mais do que imaginava barbeando cadáveres e preparando corpos para a incineração. A exposição constante à morte mudou completamente sua forma de encarar a vida e a levou a escrever um livro diferente de tudo o que você já leu sobre o assunto. Confissões do Crematório reúne histórias reais do dia-a-dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos filosóficos, históricos e mitológicos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores. O livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira inteligente, honesta e despretensiosa – exatamente como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância não é uma bênção, é apenas uma forma profunda de terror”. 

“Os ossos, reduzidos apenas aos elementos inorgânicos na cremação, ficam muito frágeis. Quando virei o crânio de lado para poder olhar melhor, a coisa toda se desfez na minha mão e os pedaços caíram no pote entre meus dedos.” Pag. 25



Aos 23 anos Caitlin consegui um emprego no Westwind Cremation & Burial, uma agencia (ou casa) funerária. Desde pequena Caitlin tem uma atração pela morte, desde que aos 8 anos viu uma menina cair e morrer no shopping. Os anos passaram e Caitlin se formou na faculdade em Historia Medieval, mas esse nunca foi o se sonho para o futuro.
Quando conseguiu o emprego no Westwind Cremation & Burial, tinha uma visão de morte, onde as pessoas não ligavam tanto assim para a morte, não seguiam mais os rituais ou mesmo os costumes religiosos de como tratar (cuidar) de um cadáver. 

“Olhar diretamente nos olhos da mortalidade não é fácil. Para evitar isso, nós escolhemos continuar vendados, no escuro em relação às realidades da morte. No entanto, a ignorância não é uma benção - é só um tipo mais profundo de pavor.” Pag. 13

Caitlin tem que cuidar dos corpos na Westwind Cremation & Burial. Em seu primeiro dia de trabalho ela ‘conhece’ o Sr. Byron, um senhor na casa dos 70 anos, ao qual ela teria que barbea-lo, pois logo o falecido teria uma sua ultima visita antes de ser cremado, mas como fazer isso?! Muitas perguntas surgiram na sua cabeça, mas seguindo seu lema, ‘sem problemas, eu cuido disso’, ela foi em frente, e barbeou seu primeiro cadáver.

De inicio Caitlin viveu diversas situações pra lá de estranhas, bizarras e ate algumas assustadoras e outras nojentas. Entre os vários acontecimento Caitlin, nos conta sobre como foi ter que fazer uma cremação com testemunhas, onde os parentes do falecido estariam presentes na hora da cremação.
Ela temia que tudo desse errado, temia por não conseguir realizar os ‘procedimentos’ de forma correta e que acabasse fazendo a maior bagunça, juntando ao fato dela ser um pouco atrapalhada.

Das varias histórias do livro, uma que me chamou mais atenção e que também afetou bastante a Caitlin, foi a sua primeira cremação de bebês, ver aqueles seres tão pequenos e inocentes, serem consumidos e no fim só restar cinzas. Um dos casos que mais abalou a Caitlin foi de uma menininha de olhos azuis.

“Por que esse bebê em particular me encheu de tanta dor?
(...)
Talvez ela tenha funcionado como um símbolo de todos os outros bebês quais não chorei.” Pag. 104

Outra historia que deixa o leitor se sentindo enjoada e a cremação de uma Senhora um pouco acima do peso, onde Caitlin descore sobre o processo de cremação da gordura, nojento!

Durante o livro, Caitlin nos trás a visão sobre a morte em diferentes situações, momentos e circunstancia, como uma tribo indígena, os Wari que praticam o canibalismo de seus entes queridos, mais isso em um contesto cultural e religioso. Também nos fala das práticas de embalsamamento dos corpos, que no inicio era para preservação do cadáver e que atualmente se tornou algo mais estético, ou seja, deixar o cadáver um pouco mais apresentável.

A Caitlin defende a ideia da ‘boa morte’ onde os cadáveres são respeitados, seguindo rituais culturais e religiosos, e nada de esconder a morte, como é de costume, não é um tema falado e muito menos discutidos, nisso a Caitlin faz muito bem em seu livro.



Admito, eu não sou de falar em morte. Sim já perdi entes queridos, mas nessas ocasiões eu não estava presente, assim nunca fui literalmente (praticamente) apresentada ‘a morte’, admito também que não saberia lidar com ela [a morte], mas com esse livro eu tenho uma outra ideia, uma nova forma de lidar / ver a morte, como a própria Caitlin diz “a morte não está acontecendo com você. Está acontecendo com todo mundo.”

Esse com certeza não é um livro fácil de se ler, é preciso ter uma mente aberta e mesmo assim ele pode nos chocar em algum momento, como a morte também nos choca quando chega.

Depois de ler essa ‘resenha’ você, deve esta se perguntando “porque dei nota 3 para o livro se digo que gostei dele?”. Vou me explicar, gostei sim do livro, a forma que a Caitlin escreve é ótima, ela sabe ser sutil e engraçada ao mesmo tempo, fala da morte de uma forma que nos faz para e pensar a respeito...
Mesmo com todos os pontos positivos em relação ao livro, eu senti falta de mais acontecimentos, de mais historias dela [Caitlin] vividas no Crematório, em alguns momentos eu me senti perdida, principalmente quando ela começava contando de uma cremação e vinha com a parte ‘histórica’ da morte, não estou querendo dizer que essa parte é ruim só estou dizendo que me deixava confusa.


Mesmo com esse ponto negativo, recomendo esse livro, para quem quer saber mais sobre a morte, sobre cadáveres, embalsamamento e cremação. E se divertir com as historias da Cailtlin, que atualmente tem um canal no YouTube - Ask A Mortician e também possui um grupo The Order of The Good Death, para discutir sobre mortalidade com aqueles que trabalham, estudam, e gostem do assunto. 





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