Continuando a semana, hoje temos o
terceiro Conto de a Magia na America do Norte, o penúltimo dos contos escritos
por J.K. Rowling, onde ela nos fala sobre a magia, como um prelúdio ao filme
Animais Fantástico e Onde Habitam.
A Lei Rappaport
By J.K. Rowling
Em 1790, a
décima quinta presidente do MACUSA, Emília Rappaport, promulgou uma lei
destinada a segregar totalmente as comunidades bruxa e não-maj. A lei foi
consequência de uma das mais graves quebras do Estatuto Internacional de
Sigilo, que rendeu à instituição uma humilhante repreensão por parte da
Confederação Internacional dos Bruxos. A questão foi ainda mais séria porque a
quebra de sigilo teve origem dentro do próprio MACUSA.
A catástrofe
envolveu a filha do homem de confiança da presidente Rappaport, o Chanceler do
Tesouro e Dragotes. O dragote é a moeda bruxa norte-americana e o Chanceler de
Dragotes, como o título sugere, equivale ao Secretário do Tesouro Nacional.
Aristóteles Twelvetrees era um homem competente, mas sua filha, Dorcas, tinha
de néscia o que tinha de bonita. Foi uma aluna medíocre em Ilvermorny e, à
época da ascensão do seu pai ao gabinete, vivia em casa sem praticamente
realizar nenhuma magia, pois ocupava-se muito mais de roupas, penteados e
festas.
Certo dia, em um
piquenique da comunidade local, Dorcas Twelvetrees apaixonou-se perdidamente
por um belo não-maj chamado Bartolomeu Barebone. Ela não fazia ideia, mas
Bartolomeu era descendente de um Purgante. Ninguém na família dele era bruxo,
mas a crença do rapaz na magia era forte e inabalável, tanto quanto a convicção
de que todos os bruxos e bruxas eram malignos.
Totalmente
inconsciente do perigo, Dorcas presumiu que o educado interesse de Bartolomeu
por seus "pequenos truques" era sincero. Levada pelas perguntas
inocentes do amado, revelou o endereço secreto do MACUSA e de Ilvermorny, deu
informações sobre a Confederação Internacional dos Bruxos e explicou como essas
instituições protegiam e ocultavam a comunidade bruxa.
Tendo coletado
tantas informações quantas conseguiu extrair de Dorcas, Bartolomeu roubou a
varinha que ela teve a gentileza de lhe mostrar e exibiu o artefato a quantos
jornalistas conseguiu encontrar. Depois reuniu vários amigos armados para
perseguir e, em tese, matar todos os bruxos e bruxas da vizinhança. Bartolomeu
ainda imprimiu folhetos com os endereços em que bruxos e bruxas socializavam e
enviou cartas a não-majs proeminentes, alguns dos quais consideraram necessário
investigar se havia de fato "reuniões malignas ocultas" ocorrendo nos
locais descritos.
Eufórico com a
missão de expor a bruxaria nos Estados Unidos, Bartolomeu Barebone excedeu-se e
disparou contra o que acreditou ser um grupo de bruxos do MACUSA, que na
verdade não passavam de simples espectadores não-majs que tiveram o infortúnio
de abandonar um prédio que estava sob vigilância. Felizmente não houve mortes,
mas Bartolomeu foi preso e encarcerado pelo crime, não havendo qualquer
envolvimento do MACUSA. Esse resultado trouxe enorme alívio para o MACUSA, o
qual vinha enfrentando com dificuldade as sérias consequências da imprudência
de Dorcas.
Bartolomeu havia
espalhado seus folhetos por toda parte. Alguns jornais lhe deram bastante
crédito e imprimiram fotos da varinha de Dorcas, observando que "dava
coices como uma mula" quando agitada. As instalações do MACUSA passaram a
atrair tanta atenção que a instituição precisou mudar de endereço. Quando a
presidente Rappaport se viu forçada a dar explicações à Confederação
Internacional dos Bruxos em um inquérito público, não pôde afirmar com certeza
que todos quantos compartilharam as informações de Dorcas haviam sido
devidamente obliviados. O vazamento foi tão grave que seus efeitos se fizeram
sentir por muitos anos.
Embora muitos
membros da comunidade mágica tenham feito campanhas para que Dorcas fosse condenada
à prisão perpétua ou mesmo executada, ela passou apenas um ano presa.
Completamente execrada e profundamente traumatizada, ela se deparou com uma
comunidade bruxa bastante diferente quando foi libertada e terminou seus dias
reclusa, na companhia apenas de seus mais queridos companheiros: um espelho e
um papagaio.
A imprudência de
Dorcas levou à criação da Lei Rappaport, que impôs uma severa segregação entre
as comunidades não-maj e bruxa. Os bruxos já não tinham mais permissão de
estabelecer amizade ou casar-se com não-majs. As punições para quem se
confraternizava com não-majs eram implacáveis. A comunicação deveria ser
limitada ao necessário para a realização das atividades diárias.
A Lei Rappaport
fortaleceu ainda mais as já abismais diferenças culturais entre as comunidades
bruxas americana e europeia. No Velho Mundo, sempre houve certo grau de
cooperação e comunicação veladas entre os governos não-maj e mágico. Nos
Estados Unidos, o MACUSA agia inteiramente à parte do governo não-maj. Na
Europa, bruxas e bruxos se casavam e travavam amizade com não-majs; nos Estados
Unidos, os não-majs eram cada vez mais encarados como inimigos. Em resumo, a
Lei Rappaport conduziu a comunidade bruxa norte-americana, que já lidava com
uma população não-maj extraordinariamente desconfiada, a um secretismo ainda
maior.
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